quinta-feira, 8 de abril de 2010

ACUPUNTURA


Vai um espetinho?

A acupuntura pode amenizar as dores, prevenir lesões e melhorar o desempenho na corrida

Por Carolina Botelho | Ilustração André Toma

"Depois do treino, quando chego em casa, como alguma coisa, tomo um banho de gelo por 10 ou 15 minutos e recebo uma massagem. Em dias específicos, faço acupuntura ou quiropraxia [técnica terapêutica com procedimentos manuais]". A frase é da norte-americana Deena Kastor, 37 anos, medalha de ouro na maratona dos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004. Além de ser adepta da terapia oriental para se recuperar com mais facilidade dos treinos, Deena utilizou a técnica chinesa depois que quebrou o osso do pé bem no início da Maratona de Pequim, em 2008. "Minha recuperação foi baseada no descanso, mas também fiz acupuntura e fisioterapia para os músculos não atrofiarem."

"A acupuntura é eficaz no tratamento de inflamações nas articulações, tendões e músculos", afirma José Roberto Oliveira, fisioterapeuta especializado em ortopedia, traumatologia e esportes há 20 anos, além de acupunturista, quiroprata e corredor. Alberto Minami, técnico em reabilitação especializado em acupuntura e quiropraxia pela Escola Oriental de Massagem e Acupuntura, de São Paulo, acredita que as dores causadas pelo impacto da corrida melhoram, e muito, com a aplicação das agulhas. "O corredor normalmente tem dores na região lombar, nas pernas, no joelho e na panturrilha. Para isso, indico que ele se submeta a aplicações superficiais no corpo todo para se prevenir. Mas, caso haja uma dor forte ou lesão mais grave, o tratamento de choque, com aplicações mais profundas, alivia a dor em duas ou três sessões, garantindo que os treinos não sejam interrompidos por longos períodos", afirma.

Muito além das agulhadas

Conheça as diversas modalidades dessa ciência milenar

Agulhas: A aplicação de finas agulhas estimula pontos centrais de energia, promovendo a liberação de substâncias analgésicas e anti-inflamatórias. Como as agulhas são finas, o método é praticamente indolor: o especialista espeta a agulha e a mantém por cerca de 20 minutos em cada ponto.

Eletroacupuntura: Técnica criada na China há cerca de 50 anos para combater as dores de pacientes no pós-operatório, trata com mais rapidez lesões nos músculos e tendões, além dos processos inflamatórios agudos e crônicos. Por unir a acupuntura clássica e a eletroterapia, conta com a ajuda de uma corrente elétrica que percorre as terminações nervosas e atinge o sistema nervoso central.

Acupuntura auricular: Pequenas agulhas ou sementes (como a de mostrada), aplicadas e mantidas nas orelhas durante sete dias, estimulam mais de 100 pontos relacionados aos órgãos do corpo humano e seus sistemas centrais. Não dói, não causa incômodo e trabalha muitos pontos em conjunto.

Moxabustão: A técnica pode ser aplicada em conjunto com a acupuntura. Ela atinge os pontos que precisam de estímulo por meio da queima e calor de uma erva, a artemísia. O processo aumenta a circulação de sangue e de energia no local da aplicação e equilibra os sistemas. Quando aplicada com a acupuntura, penetra melhor no ponto energético.

Acupressão: Tipo de massagem que ativa os mesmos pontos energéticos que a acupuntura tradicional com a utilização das pontas dos dedos ou palitos de bambu (utilizados pra pressionar os pontos, somente). A grande vantagem é que ela pode ser aplicada pelo próprio corredor.

Os princípios e a ação

A palavra acupuntura origina-se do latim acus, que significa agulha, e pungere, que remete ao ato de puncionar. "É baseada na inserção de agulhas em pontos específicos da pele, em diferentes profundidades, com o propósito de produzir efeito terapêutico. Ela é conhecida principalmente pela ação no alívio da dor aguda e crônica de várias origens", afirma Liaw W. Chao, médico cirurgião formado pela USP, especializado em medicina esportiva e acupuntura. “As agulhas são colocadas em diversos pontos para dispersar a energia acumulada no local, que é o que causa a dor”, diz Minami.

Bem bolado

É comum na fase inicial de um tratamento fazer a associação de analgésicos, anti-inflamatórios e relaxantes musculares com a acupuntura. Mas, à medida que os efeitos terapêuticos da técnica chinesa surgem, os medicamentos são reduzidos e até retirados. Para Oliveira, no entanto, não existe uma terapia soberana, ou seja, a indicação da acupuntura ou da alopatia vai depender muito do paciente, da gravidade da patologia e até da aceitação ao tratamento. "As lesões funcionais, comuns em quem corre e que se apresentam como inflamações, edemas, estiramentos, encurtamentos, dores lombares e tendinites, geralmente respondem bem à acupuntura", afirma Chao. "O principal benefício para o atleta é que a acupuntura não intoxica o organismo com agentes farmacológicos, evitando consequências a longo prazo, como problemas gastrointestinais", diz Oliveira.

Melhora no desempenho

Uma pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina Oriental de Seul, na Coreia do Sul, publicada em 2002, testou a resistência de "ratinhos corredores" tratados com acupuntura. Eles foram colocados para correr na esteira e os pesquisadores notaram que as cobaias demoraram muito mais para chegar aos níveis de exaustão que os animais não submetidos à técnica. A explicação dos cientistas coreanos é que a acupuntura estimularia o corpo a produzir esteroides e endorfinas, hormônios liberados pelo nosso cérebro para combater a dor e trazer as sensações de bem-estar e conforto.

O tratamento

Em geral, Chao recomenda de duas a três sessões por semana nas crises, com tratamento focado, em primeiro lugar, no edema (decorrente de batidas, torções ou inflamações) e, em seguida, na dor e na inflamação. Minami acredita que os casos de urgência, para as dores agudas, devem receber tratamento de choque. "Uso o método sedativo, com a colocação de agulhas em profundidade. Chega a doer, sim. Mas o corredor sai da sessão de acupuntura sem dor", afirma.

Uma vez que as dores diminuem, o corredor pode retornar gradativamente aos treinos, sempre com supervisão especializada. "Nesse momento, é importante que o treinador e o acupunturista identifiquem o fator que levou à dor e à lesão. Pode ser sobrecarga de treinamento, tipo de calçado ou de piso, biomecânica da corrida ou outras lesões associadas e não identificadas", diz Chao. "O alívio da dor e da inflamação não dispensa outras medidas de reabilitação, como o trabalho de alongamento e de fortalecimento muscular, com um fisioterapeuta", afirma.

Sinta-se melhor

Ao sentir dor depois dos treinos e das provas, experimente uma sessão de acupuntura antes de recorrer aos analgésicos.


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